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A HOSPEDEIRA/Crítica – tão dramático quanto uma geladeira

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 Condenado pela artificialidade com a qual foi produzida, a ficção científica A Hospedeira não se desgruda de Stephanie Meyer e de seu enredo desprovido de dramaticidade e pela recusa de fazer um mergulho na sexualidade

Saiorse Ronan em A HOSPEDEIRA (2013), de   : círculo nos olhos identificam as almas alienígenas

Saiorse Ronan em A HOSPEDEIRA (2013), de Andrew Niccol: círculo nos olhos identificam ocupação alienígena

O romance A Hospedeira, de Stephanie Mayer, a autora da trilogia Crepúsculo, tem uma ideia brilhante: uma raça alienígena sem forma física e cuja essência é uma alma de pura energia racional se espalha pelo universo colonizando todos os planetas habitados, instalando em suas sociedades a paz e a harmonia. A Terra é invadida de forma tão despercebida que, quando as pessoas se dão conta, os poucos sobreviventes fogem e escondem-se em lugares remotos do planeta.

Uma dessas sobreviventes, Melanie Stryder, é capturada e seu cérebro invadido pela alma da alien chamada Peregrina – nome este remetido ao fato dela ter se hospedado com sucesso em milhares de vítimas de diversos planetas colonizados –, a qual tem a missão de subjugar a sua hospedeira e obter a localização dos humanos do grupo ao qual ela pertence. Melanie resiste e, aos poucos, os seus sentimentos humanos e às lembranças do homem o qual, Jared, acabam fazendo da “invasora” a sua aliada.

Meyer disse que a ideia do romance, moldado em um inusitado triângulo amoroso, adveio durante uma viagem e que até a metade da história não tinha nenhuma ideia do que estava escrevendo. Lançado em 2008 nas livrarias estadunidenses, The Host ficou 26 semanas consecutivas no primeiro lugar do Ranking literário do The New York Times, com boa receptividade da crítica, tendo sido um dos recordistas de vendas do ano.

A Hospedeira, o livro editado pela Editora Intrínseca, e a sua autora, Stephanie Meyer

A Hospedeira, o livro editado pela Editora Intrínseca, e a sua autora, Stephanie Meyer

Em 2009 chegou ao Brasil com o título de A Hospedeira, com o selo da Editora Intrínseca (560 páginas, R$ 39,90), ao mesmo tempo em que os direitos eram comprados para o cinema pela pequena produtora Open Road, a qual contratou Andrew Niccol, o realizador de Gattaca, Experiência Genética (1997), para adaptá-lo e dirigi-lo.

A história criada por Meyer tem muito de um romance de Jack Finney, Invasores de Corpos (1955), no qual vagens gigantes que atravessam as galáxias colonizando os planetas caem na Terra e clonam os humanos enquanto dormem, criando uma raça desprovida de emoção, elemento fundamental para a criação de uma sociedade sem qualquer tipo de conflitos.

A Hospedeira chega aos cinemas sob a expectativa da crítica, e, nem tanto, do público, exceto pelos admiradores de Meyer e daqueles que conhecem o romance – o qual precisa de muita boa vontade do leitor em superar os dois primeiros capítulos.

Andrew Niccol, diretor de A HOSPEDEIRA

Andrew Niccol, diretor de A HOSPEDEIRA

Esperava-se muito do filme, principalmente em função de Niccol, um especialista em ficção científica, cuja carreira está pontificada pela qualidade de obras como O Senhor das Armas (2005) e O Preço do Amanhã (2011). E Niccol, por três motivos, é o principal responsável pela má qualidade de A Hospedeira.

O primeiro, por não conseguir livrar-se do espectro de elementos de romance para adolescente da trilogia Crepúculo, características as quais dominam a narrativa literária de Meyer, já que suas obras são voltadas ao público adolescente. A personagem central, Melanie (vivida com sobriedade por Saiorse Ronan) tem 17 anos e também se insere em um triângulo amoroso adolescente com dois rapazes belos e sarados. A fidelidade canina de Niccol ao romance de Meyer só tem sentido se tiver sido exigência contratual da autoria. Com ou sem, submissão total.

Diane Kruger, a Buscadora de A HOSPEDEIRA

Diane Kruger, a Buscadora de A HOSPEDEIRA

Em segundo, a superficialidade com a qual o filme foi feito. Nada ganha expressão de real: nem a cenografia e o visual da cidade futurista, os personagens e os acontecimentos, o paixão nos relacionamentos amorosos, os conflitos humanos divididos entre a aceitação e a rejeição da heroína ocupada por uma alienígena, o conflito das paixões masculinas. Para fechar os créditos negativos, a montagem, abrupta em determinados momentos, desconecta a unidade narrativa e minimiza o efeito das elipses (a supressão do tempo entre uma cena e outra) e, pior ainda, a dramaticidade se esvai ao não conseguir dar eficiência aos conflitos da trama, como por exemplo, o progressivo descontrole da Buscadora (Diane Kruger) em sua obsessiva missão de localizar Melanie/Peregrina.

Créditos vão, no entanto, para as atuações de Saiorse Ronan, William Hurt e Francis Fisher. Mas, digno de aplausos mesmo é o musicista brasileiro Antonio Pinto, criador de uma trilha sonora brilhante, a qual tenta dar relevância aos momentos dramáticos e sobriedade às passagens românticas. Mesmo tendo a favor a trilha sonora de Pinto, Niccol também não consegue dotar o filme daquilo que é mais exigente: envolver ou emocionar o espectador. A Hospedeira é um planeta gelado em termos de cinema.

Jake Abel e Saiorse Ronan em A HOSPEDEIRA: superficialidade

Jake Abel e Saiorse Ronan em A HOSPEDEIRA: superficialidade

O mais lamentável em A Hospedeira é o desperdício dos elementos filosóficos contidos na personagem Melanie Stryder, concernente ao efeito de ser um corpo ocupado por duas almas com propósitos diferentes e da questão dos sentimentos humanos afetarem diretamente a alma alienígena. A posse do corpo não se estendendo a domínio ou controle, o embate de almas entre opressão e liberdade, os desejos e sentimentos conflitando dois pensamentos antagônicos em um só corpo são alguns dos elementos de reflexão que apenas são tocados sem aprofundamento. Claro, o enredo de não busca promover a reflexão em seu público-alvo, mas apenas entregar um romance triangular amoroso que seja à base de água com açúcar.

Outro efeito que também suscita uma reflexão, a disputa e a diversidade humana de Jared (Max Irons), Ian (Jake Abel) e Kyle (Boyd Holbrook) pelas respectivas mulheres contidas em um só corpo, que deveriam ser elementos dramáticos da história, igualmente não consegue obter um efeito dramático o qual só seria possível com uma pulsação de sexualidade latente, a qual é totalmente abortada em nome de uma trama que apenas a sugere o sexo em nome do bom conservadorismo. Assim, o roteiro assume uma posta assexuada endereçada ao público adolescente. O moralismo de Meyer e Niccol é tacanho.

A Hospedeira é, assim, um desperdício de boas-ideias, agravado por uma narrativa insípida e de diálogos bobos e irrelevantes, se consumando em espetáculo ao qual se assiste sem emoção, mas que, no entanto, deverá ser apreciado pelos jovens admiradores de Stephanie Meyer e os saudosistas de Edward e Bella.

Ficha técnica

A Hospedeira (The Host, EUA, 2013), de Andrew Niccol, com Saiorse Ronan, Diane Kruger, Jake Abel, William Hurt e Frances Fisher. 125 minutos. 12 anos.

Veja o trailer de A Hospedeira.

Clique aqui para assistir o vídeo inserido.

 

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